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Perguntas e Respostas

Selecionamos algumas da perguntas mais recorrentes, ou importantes, para se compreender o projeto coletivo da Via SOT

O que é um SOT?

É a sigla para Sistema Orgânico do Trabalho, que compreende um conjunto de três mediações ontológica (relações formadoras do ser social) adequadas para as necessidades do TRABALHO ASSOCIADO e do projeto de AUTOGESTÃO SOCIETAL.

 

Quais são as mediações do SOT?

São três:

 

- Autogestão societal;

 

- Propriedade orgânica;

 

- Renda sistêmica.

O que é a Via SOT?

Trata-se de um coletivo ou associação de pessoas, comprometidas com a construção de uma efetiva solidariedade entre os humanos, por meio da criação de um SOT.

Qual o primeiro passo para iniciar uma experiência prática do SOT?

Acreditamos que a formação de um coletivo de pessoas, engajadas para se buscar os meios práticos de integração orgânica do trabalho associado, já seria esse primeiro passo.

 

Pois já, nessa iniciativa prévia, se criam também os meios de gerar organicidade entre os seus associados, concentrando esforços e recursos para um posterior implante crítico.

 

A partir desse coletivo inicial, talvez na forma de uma associação, novos processos são produzidos.

 

Primeiro a mobilização de novos apoios e inserção de novos associados.

 

Segundo, a pesquisa e discussão de quais os caminhos possíveis para se iniciar a constituição de um Sistema Orgânico do Trabalho.

 

A princípio, teríamos duas grandes opções:

 

a) integrar organicamente os empreendimentos solidários já existentes;

 

b) adensar e concentrar ações e recursos num espaço territorial, na forma de uma "comuna de reversão", para criar um ponto de ruptura e apoio mais consistente e apto a organizar, por meio dos próprios trabalhadores organicamente associados, tal processo de integração e expansão solidária.

 

Quais práticas, vivências ou experiências concretas devem ter os futuros integrantes do SOT?

Basicamente uma postura de solidariedade substantiva, na qual eventuais desigualdades históricas, como a escolar, devem ser, na medida do possível, suprimidas. 

 

Cada um precisa entender o seu papel como protagonista singular, e também como membro de um coletivo em formação. Dessa forma, uma nova cultura de alteridade harmoniosa entre indivíduo e coletivo precisa ser construída, porém, isso será uma tarefa e um desafio que estará permanentemente presente nas lutas cotidianas, por uma nova relação social entre os humanos, não mais baseada na exploração ou na desigualdade.

Como ficaria a organização do trabalho no SOT?

Seria necessária uma ostensiva e progressiva mudança.


Num primeiro momento, já estaria abolida a divisão social hierárquica do trabalho, sendo a sua gestão feita, de forma imediata por meio de conselhos técnicos, e de forma mais ampla, por conselhos de planejamento, integrando assim uma autogestão produtiva e efetivando a re-integração ontológica das dimensões da concepção e da execução (cuja divisão vem a ser um dos principais elementos alienadores do trabalho).


Outro ponto a ser remodelado, progressivamente, seria a divisão entre o trabalho manual e o trabalho intelectualizado. Naturalmente que cada pessoa teria suas habilidades e qualificações, entretanto, na divisão capitalista, isso tende a se concentrar de forma antagônica e alienante, no sentido de alguns exercerem apenas atividades intelectuais, durante toda a sua jornada de trabalho, ou mesmo carreira, e outros exercerem somente atividades manuais.


Já dentro de uma proposta de emancipação social, para além da alienação do trabalho, tal clivagem precisar ser também objeto prioritário de superação, na forma de redistribuição progressiva de tarefas, buscando mesclar, para cada trabalhador associado e na medida do possível, tarefas intelectuais ou de necessária especialização, e tarefas manuais ou rotineiras, na perspectiva da igualdade substantiva. 

Como seria organizada a escola? Como organizaremos o sistema de saúde SOT? Como ficará a questão previdenciária?

Na medida do possível, seria necessário substituir os serviços estatais de saúde e educação, passando estes a serem providos pelo próprio SOT, na medida que houverem profissionais da saúde e da educação dentre os trabalhadores organicamente associados.

 

Tais serviços seriam ofertados de forma gratuita para os associados. Os seus profissionais recebem a sua parcela da renda sistêmica, e a aquisição de equipamentes e construção de prédios seria a partir da taxa de investimentos do SOT.

 

Na lógica de um Sistema Orgânico, não é necessário o regime de previdência, isso porque os seus associados continuam recebendo a sua renda sistêmica, mesmo que, por diversos motivos, não puderem trabalhar.

 

Porém, vale lembrar que os associados do SOT não deixam de ser cidadãos também, logo, portadores de todos os direitos que o Estado promove, inclusive de serviços estatais públicos. 

 

Outra coisa será buscar a transição disso, na perspectiva de diminuir a dependência estatal, e efetivar os direitos da integralidade e organicidade do trabalho associado, inclusivo como promotor de serviços sociais.

 

Como iniciar uma experiência prática sem recursos patrimoniais e financeiros?

A rigor, sem pelo menos uma base material ou patrimonial, na forma de meios de produção, não seria possível sequer existir um Sistema Orgânico do Trabalho Associado Produtivo (SOT).

 

Podemos, sim, buscar os meios prévios para se criar, futuramente, condições objetivas para a construção de um SOT.

 

Uma delas seria organizar formas horizontais de articulação de pessoas, ideias e interesses.

Qual o envolvimento que devemos ter ou procurar com a economia solidária, com a agricultura familiar organizada em associações, cooperativas de crédito, com o MST?

Seria importante buscar-se o maximo possível de diálogo e parceria, porém, o ideal mesmo seria convergir e concentrar esforços para um ponto consistente de ruptura histórica, na forma de uma Comuna de Reversão.

 

De certa forma, todos esses movimentos apontam para a superação da sociabilidade capitalista.

Que lições podemos apreender/tirar dessas organizações?

Principalmente questões referentes às experiências de trabalho coletivo e solidário, tanto no seu potencial, como nos seus recorrentes problemas.

Quais etapas podem podem ser descritas e pensadas cronologicamente do SOT?

 

A princípio, ou seja, apenas como primeiro rascunho, podemos pensar nessas etapas:

 

1 - Fase pré-SOT: etapa para se buscar meios de auto-organizar pessoas e articular movimentos e outros coletivos, divulgar a proposta, ganhar algum grau de reconhecimento social, buscar meios práticos e recursos iniciais para sua implantação.

 

2 - Implantação do SOT: etapa que se iniciar concretamente um Sistema Orgânico, a partir do mínimo necessário de recursos (meios de produção) e de trabalhadores organicamente associados, e o máximo possível de apoio e recursos (fundo crítico ou solidário) para sua constituição.

 

3 - Consolidação do SOT: etapa aonde os primeiros trabalhadores organicamente associados vão aprimorar os elementos de autogestão societal, formas de re-formatação ou readequação sócio-técnicas, produtiva ou integração de cadeias de produção, e especialmente de formação de uma nova cultura (e conhecimentos) de se viver fora dos grilhões do trabalho alienado.

 

4 - Expanção do SOT: etapa aonde o SOT tende a receber um fluxo maior de adesões de outros trabalhadores e recursos. 

A propriedade é coletiva, como pensarmos o futuro dos filhos (herança patrimonial)?

Os filhos, netos, bisnetos, e assim por diante, teríam duas heranças:

 

Uma individual, dos bens e objetos que perteceram aos seus pais.

 

Outra coletiva, de partilhar, nas mesmas condições dos demais trabalhadores associados, do patrimônio de meios de produção formados pelo trabalho solidário não alienado.

 

Logo, eles são naturalmente os novos "trabalhadores organicamente associados", e se beneficiarão de todos os benefícios desta nova sociabilidade, como a ausência de desemprego, melhor uso e sustentabilidade de recursos naturais, entre muitos outros...

O que precisamos fazer para adaptar-se, conscientizar-se e incluir a família no SOT? A família continua sendo a célula da sociedade SOT?

A depender da situação, seria importante uma compreensão geral do propósito de um Sistema Orgânico, no sentido de transformar algumas relações sociais de produção básicas. Isso não interfere diretamente na familia. 

 

Outro ponto seria promover, na medida do possível, rodas de conversa, para esclarecer dúvidas, colocar críticas.

 

Porém, somente uma experiência concreta poderia dimensionar melhor, e falar por si só, como seria essa nova forma de convivência.

 

Quando a posição da família, dentro de um SOT o seu papel mudaria, no sentido de maior enriquecimento social e intercâmbio inter-famliar. Isso porque a célula social organizativa e fundamental do SOT seriam os núcleos comunitários, que agregariam um conjuntos de família ou indivíduos num espaço semelhante a um bairro. Por sua vez, sem ferir a autonomia e intimidade de famílias e indivíduos, o núcleo comunitário possibilitaria uma maior integração e proteção solidária dos mesmos.

 

 

Em caso de empréstimo financeiros que garantias daremos e quem responderá por elas?

Como os bens patrimoniais do SOT, ou seja, a propriedade orgânica, é inalienável, a princípio esta não poderia ser dada de garantia (ou isso deveria ser evitado ao máximo).

 

A alternativa seria, na opção de crédito financeiro, a constituição de um fundo de aval solidário. 

 

Porém, se o crédito for para aquisição de meios de produção (que seria o ponto principal), o próprio bem seria a garantia, e o mesmo somente seria incorporado ao patrimônio coletivo do SOT após a plena amortização do empréstimo.

Como seria o sistema financeiro? Como fundar uma cooperativa de crédito e tê-la como instrumento organizativo do SOT?

É preciso considerar dois cenários:

 

1 - A rigor, dentro de um sistema orgânico, não há necessidade de um sistema financeiro (juros, moeda, empréstimo, duplicadas, títulos, etc). Ao contrário disso, seria preciso simplesmente a montagem de um sistema de informação, baseado na indexão entre produção e demandas de consumo, na forma crédito mútuo (mutualismo nos fluxos de renda).

 

2 - Na transição, haverá a necessidade de intercâmbio do SOT com o sistema mercantil. Dessa forma, os próprios associados do SOT é que vão criar e organizar a sua cooperativa, que não seria apenas de crédito, mas sobretudo de compras e vendas. A função dessa cooperativa seria justamente a de ser um canal jurídico e prático de intercâmbio com o mercado, vendendo produtos, comprando mercadorias, organizando as contas dos associados (especialmente quando precisarem de moeda corrente), entre outras funções que se apresentarem necessárias.

Como trataremos a agricultura, pecuária, indústria e o comércio?

Quanto a agricultura, pecuaria e industria, esses seria organizados na forma de eixos produtivos. 

 

Cada eixo produtivo seria autogestionário, ou seja, administrado por meio de um conselho.

 

O conjunto dos eixos produtivos formaria outro conselho, de planejamento econômico.

 

Dessa forma, se buscaria a integração material de cadeias produtivas, tanto no seu aspecto vertical (insumo-produto), como no seu aspecto horizontal (variabilidade), conforme as condições e demandas do conjunto dos trabalhadores associados.

 

Já o comercio sofreria, fatalmente, mudanças mais intensas, divergindo muito da forma como conhecemos hoje. Primeiro que no SOT não há intercâmbio mercantil, logo, não há que se falar em comércio. Este é substituido por outros mecanismos de distribuição e consumo, de forma integrada e planejada com a produção. 

 

Dessa forma, novas figuras surgiriam, como o planejamento prévio de consumo, garantia eterna dos produtos, consultor de produtos e demandas, entre outros.

 

 

Que tipo de instituição é melhor para iniciar, associações ou cooperativas?

Isso dependerá das pessoas engajadas na construção de um SOT.

 

Porém, numa etapa pré-SOT, sem dúvida seria necessário uma associação que organizasse a construção coletiva deste projeto, bem como a constituição de um fundo crítico ou solidário inicial.

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